Sempre tive a sensação de ver bichos, insetos e correlatos como barata passando pela casa, principalmente nas paredes.
Essa sensação ocorre, normalmente, à noite, quando estou deitada no sofá vendo televisão. Ou, ainda, quando a casa está bem silenciosa e estou no computador. Ocorre, também, com pessoas ao invés de insetos... porém a maior freqüência é, certamente, com insetos.
Nos primeiros dias após a chegada do bebê percebi que estava com a mente explodindo de idéias... tipo brainstorm. Eu diria que na verdade era uma tsunami de idéias, pensamentos e especulações. Esse fato era tão avassalador que não conseguia juntar as idéias e tão pouco fazer qualquer conexão. Eram idéias férteis e soltas.
Juntando a coisa de ter a sensação de ver insetos nas horas mais inesperadas com uma tempestade de criatividade e pensamentos insanos, no momento pós-parto, veio a sensação de estar sendo vigiada.
Isso mesmo! Eu tinha a sensação de estar sendo vigiada, filmada... sei lá.. minhas imagens sendo gravadas.
Tudo começou assim... Meu bebê teve que tomar mamadeira logo nos primeiros dias de vida. Assim a rotina de lavar mamadeiras era constante levando em consideração que nos primeiros meses ele chegava a fazer 6 refeições ao dia. Logo que ele mamava a soneca era garantida. Muitas vezes a mamadeira nem acabava e ele já estava dormindo. De certa forma, era um alívio, pois iria cuidar de outros afazeres e até mesmo dormir com tranqüilidade e paz.
A tarefa de esterilizar as mamadeiras ficava por conta do pai e da mãe, então, a rotina de lavá-las e coloca-las no aparelho era constante.
Sempre que estava lavando as mamadeiras, na pia da cozinha, tinha a sensação de ver uma formiga grande passando correndo.
Nenhum problema com formigas... mas, sim, o fato dela ser grande e muito veloz.
Durante dias fiquei com esse pressentimento, já estava incomodada e curiosa.
Passei, então, a buscar essa formiga. Ela tinha que existir ou eu tinha que assumir minha loucura, digo confusão.
Nesta época eu já tinha grande apreço por
internet e
chat. A licença maternidade juntamente com férias e licença-prêmio me renderam vários meses em casa. Tempo não era o que me faltava – pelo menos nos primeiros meses de vida do bebê. Passava o dia “perturbando” meus amigos – que estavam na labuta – com conversas sobre isso e aquilo. Em especial, com um amigo muito querido passei a desabafar sobre essa sensação de estar sendo vigiada por formigas. Obviamente, ele riu, mas logo eu o enchi com toda a minha fundamentação insana que ele passou a me ouvir (acredito que por pura educação, afinal de contas ele é um gentleman!). As perguntas eram do tipo: __ Você conhece formigas grandes? __Sabem que elas andam rápido? __Tem algum conhecimento no assunto?
Acho que acabei por despertar sua curiosidade e ele começou a corresponder sobre o assunto: __Grande? __ Defina grande.
O diálogo foi demente. Ficamos conversando sobre os aspectos da formiga e assim ela foi definida: Grande: tipo daquelas cabeçudas com o bundão grande e as antenas bem proeminentes. Veloz: sua velocidade é semelhante com a das formigas pretas, magrinhas e extremamente rápidas.
Mas, até, então... eu não tinha visto a formiga. Somente seu reflexo. Tudo isso por conta da sua velocidade.
Passei a caçar a formiga. Afinal de contas eu tinha que vê-la.
Comecei a chegar de surpresa na cozinha, ora contando os passos ora correndo. Levantava os objetos procurando por ela: atrás do escorredor de pratos, na tampa da lixeira, no fogão, dentro da geladeira, embaixo do armário... Foi uma busca só... Tudo bem que a essa altura do campeonato eu já estava paranóica.
E toda essa rotina estava sendo compartilhada com meu amigo... Passei a dividir minha loucura e me sentir mais aliviada até que ele começou a suspeitar da existência da formiga.
Meus pensamentos se voltaram para minha condição de criatividade aflorada. Uma sensação que não tinha experimentado com tanta energia assim. Penso que foi o resultado de tanto leite materno represado (por conta de uma plástica no seio o leite materno produzido não tinha condições de sair...só acumulava. Essa é outra estória!).
Será que a formiga existe? Não é possível! Eu via o vulto! Não estava louca de forma alguma.
Comecei a pesquisar na internet e encontrei:
Segundo a pesquisadora Ana Eugênia Campos Farinha, do Instituto Biológico de SP, há entre 20 e 30 espécies de formigas que vivem em estreito contato com o homem. Entre as mais comuns estão a Tapinoma melanocephalum (formiga-fantasma); a Paratrechina longicornis ou Paratrechina fulva (formiga-louca); a Linepithema humile (formiga argentina); a Monomorium pharaonis ou Monomorium floricola (formiga-faraó); a Wasmannia auropunctata (formiga pixixica), e também as dos gêneros Crematogaster (acrobatas); Brachymyrmex (sem nome comum); Camponotus (carpinteiras); Solenopsis (lava-pés) e Pheidole (cabeçudas), além de saúvas (gênero Atta) e quenquéns (gênero Acromyrmex), estas mais encontradas no meio rural.
Fonte: http://soniareginabrasilia.blogspot.com/2009/09/formigas.html
Nenhuma das descritas acima se enquadrava com a formiga que desaparecia com a velocidade de um piscar de olhos. Um novo tipo acabara de surgir comigo: A Formiga Alienígena com o nome científico
Alien insanus.
Armadilhas em cima da pia... açúcar espalhado na casa... mel dentro do pires... Essas coisas para descobrir o caminho que a danada percorria. Era uma operação de guerra... Não queria ver mais esse ser estranho fugindo de mim, me passando a idéia de que estava me controlando... Quando eu aparecia ela se escondia...
Comecei a encontrar os vultos da formiga no banheiro, na sala, no escritório... E minha paranóia passou a aumentar.
Teimei diversas vezes sobre sua existência e na minha cabeça era apenas uma monstrinha... me vigiando, me torturando.
A loucura foi tanta que acho que cansei meu amigo... ele, meio desconcertado, disse que minha imaginação estava a 1000... e que poderia escrever essa e outras estórias.
Nesse momento o foco mudou passaria de personagem para autora da escritora... Achei sem nexo, pois não me sentia com afinidade com a língua portuguesa para chegar ao ponto de escrever isso ou aquilo. Minha mente descontrolada nos pensamentos não me ajudava a organizar nada... Eu não saia do título do conto: Formigas Alienígenas!
Essa idéia foi logo abortada!
Voltei para a caça da formiga.
Percebi que a população aumentou... Elas voltaram para, agora, dominar meu lar...
As mamadeiras e o leite do neném passaram a ser guardadas a sete chaves! Nada ficava fora de proteções herméticas.
Certo dia, acordei meio zonza... com as idéias mais desordenadas ainda... e, penso que as formigas alienígenas passaram a adotar o comportamento humano por que elas deixaram de ser vulto e passaram a ser presenciais... estavam mais displicentes... e nada cuidadosas.
O ataque final estava próximo.
Comprei diversos tipos de veneno... para jardim, para formiga cortadeira e até aquele que vem numa bisnaga para formigas domésticas. Elas tinham que ser exterminadas.
Passei os venenos na casa toda...
Em poucos dias minhas buscas se cessaram e eu passei a ter paz.
A paz, ainda, reina. Não há sinais de alienígenas aqui...
E, meu amigo, a estória está escrita. Obrigada pelo incentivo!